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El Niño e La Niña: origem, efeitos e oportunidades

9 outubro 2020 Habitat

O ENOS é um fenômeno de variabilidade climática. A ocorrência dele  — nas duas fases: El Niño ou La Niña — produz diversos efeitos, às vezes imprevisíveis, em diferentes regiões do continente e do mundo. Conhecer as perturbações climáticas associadas a cada fase permite que decisões inteligentes sejam tomadas, visando um desenvolvimento planejado que proteja as comunidades e seus meios de subsistência.

* Este artigo foi publicado na Revista Geociências SURA | Edição 1 | Novembro de 2016.

 

ENOS: manifestações e características

O El Niño Southern Oscillation (ENSO, na sigla em inglês) ou EL Niño Oscilação Sul (ENOS, na sigla em português) é um fenômeno de variabilidade climática que tem impacto significativo sobre a dinâmica de ventos atmosféricos e os padrões de precipitação nos trópicos, causados pela elevação ou diminuição da temperatura média superficial do Oceano Pacífico Equatorial. 

O ENOS é um fenômeno que acontece por causa da interação entre o oceano e a atmosfera no Pacífico Equatorial. Dependendo de seu estágio, certas regiões do Oceano Pacífico Equatorial aumentam sua temperatura superficial, produzindo a elevação do ar quente para a atmosfera, que, ao ser condensado, pode causar um aumento considerável de chuvas em certas regiões. 

A intensidade do ENOS pode ser classificada em três níveis: fraco, moderado e forte. Para estimar cada nível de intensidade, existem diferentes índices macroclimáticos que são construídos a partir da comparação das variáveis climáticas observadas em várias regiões do Oceano Pacífico Equatorial, como a temperatura superficial do oceano, pressão atmosférica, velocidade do vento de superfície e cobertura de nuvens. 

Como que cada índice é construído a partir da observação de diferentes variáveis climáticas, os valores obtidos podem variar uns dos outros, de modo que a intensidade final de cada evento ENOS é definido por um consenso realizado por especialistas de entidades como a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA, sigla em inglês), o Centro de Pesquisa do Fenômeno El Niño (CIIFEN) e o Instituto Internacional de Pesquisa de Clima e Sociedade (IRIS), além de outras entidades em todo o mundo, coordenadas pela Organização Meteorológica Mundial.  

 

A Suramericana realiza um monitoramento constante do prognóstico estacional (trimestral) do ENOS gerado pelas agências internacionais e nacionais encarregadas pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), a fim de informar oportunamente a seus cliente a probabilidade de ocorrência do fenômeno.

 

Por que os efeitos do ENOS nas diferentes regiões da América Latina variam tanto? 

O ENOS é um fenômeno macroclimático que somado a outras variáveis climáticas, geográficas e topográficas, como a proximidade de um lugar determinado aos trópicos, a configuração orográfica, a proximidade com a Bacia Amazônica, e as correntes oceânicas do Pacífico, afeta a dinâmica de comportamento do clima local.

Esse fenômeno é bastante complexo e, embora a sua probabilidade de ocorrência possa ser prevista, a duração e intensidade são difíceis de prever e seus impactos dependem das condições climáticas específicas de cada país. 

É importante estar ciente dos efeitos climáticos que esse fenômeno causa em cada região e sua probabilidade de ocorrência. Para fazer isso, as agências responsáveis monitoram constantemente o estado atmosférico-oceânico e contam com canais de comunicação para informar e oferecer os elementos fundamentais que permitam planejar as ações a seguir pelos diferentes setores, caso o El Niño ou La Niña ocorram, a fim de reduzir seus impactos.

 

Por que esse fenômeno se chama “El Niño”?

Durante a fase quente do ENOS (El Niño), as temperaturas superficiais ao longo do Oceano Pacífico Equatorial atingem seu ápice em dezembro. Esse fato incide diretamente na estrutura térmica do oceano, especialmente no Pacífico leste, nas costas peruanas, onde é inibida a mistura das águas superficiais com as profundas, o que evita que os nutrientes possam emergir para as camadas superficiais a partir do leito marinho. Por esse motivo, grande parte da fauna marinha migra para outras regiões buscando alimento. 

Os primeiros a notarem essa situação foram os pescadores das costas peruanas, que associaram o fenômeno com o nascimento de Jesus (El Niño Dios) devido à época na qual acontecia essa anomalia, motivo pelo qual começaram a referir-se ao fenômeno como “El Niño”. A comunidade científica adotou esse nome para a fase quente do ENOS, e denominou a outra parte do fenômeno (fase fria) como “La Niña”. 

 

Quais são as características do ENOS?

O ENOS mostra seus primeiros sinais na variação da temperatura superficial do Oceano Pacífico Equatorial, aproximadamente no trimestre março-abril-maio (M-A-M), consolida-se entre junho e novembro, e atinge sua máxima intensidade aproximadamente no mês de dezembro, momento em que começa a perder força. 

 A variação das temperaturas médias mensais do Oceano Pacífico Equatorial, não incidem imediatamente nas perturbações climáticas de cada região onde se percebem os efeitos desse fenômeno. As diminuições ou aumentos nas precipitações médias podem demorar alguns meses após os sinais do ENOS no oceano, dependendo da localização geográfica de cada região. 

O ENOS exibe um ciclo irregular, o que significa que suas fases nem sempre são alternadas, isso é, não necessariamente uma fase El Niño deve ser seguida de uma fase La Niña e vice-versa. Um exemplo de irregularidade que pode ocorrer em cada uma de suas fases é o período La Niña que ocorreu entre 2010-2011, de intensidade moderada, o qual foi seguido por outro período La Niña entre 2011-2012, com intensidade fraca.

 

O ENOS e o câmbio climático 

O oceanógrafo Rodney Guillermo Martínez Güingla, diretor do Centro Internacional para a Pesquisa do Fenômeno El Niño (CIIFEN), explica que a comunidade científica ainda mantém um debate aberto sobre o comportamento do ENSO no que se refere à Mudança Climática, e coloca como exemplo as últimas discussões do Painel Governamental de Mudança Climática (IPCC, sigla em inglês).

No entanto, um fato tangível que faz com que sejam mais sentidos os efeitos do fenômeno — e que nos torna mais vulneráveis a seus efeitos — é o desenvolvimento não planejado da sociedade. 

A pecuária extensiva, o assentamento da população nas cidades de maneira desorganizada e em áreas de risco, assim como a desinformação, entre outros aspectos, fazem com que, ao haver temporadas de precipitações intensas ou de secas prolongadas, sintam-se mais as consequências. 

 

Variabilidade dos efeitos 

Quando falamos do ENOS, nos deparamos com o fato que cada evento relacionado com sua fase quente ou fria pode apresentar diversas características associadas a sua duração e severidade, motivo pelo qual as repercussões climáticas de uma temporada, como o desenvolvimento da fase El Niño em certa região, não são as mesmas que poderiam gerar outra temporada associada à mesma fase. 

 No que se refere aos seus impactos, o fenômeno apresenta um comportamento diferenciado por regiões, inclusive dentro de um mesmo país. Por exemplo, a fase El Niño causa precipitações em excesso na costa peruana e um aumento da temperatura do ar na região andina. Na Colômbia, seu comportamento também é diferenciado, já que na região andina há uma diminuição acentuada nas precipitações em comparação com outras áreas do país.

Se mencionamos países como Argentina, Uruguai, Chile ou Brasil, devemos explicar que, por suas características geográficas e o enfraquecimento dos ventos alísios, é esperado que ocorram mais chuvas quando estamos na fase quente (El Niño).

“Os efeitos do ENOS são sentidos com mais intensidade no norte da América do Sul que no sul. Dependendo da região geográfica, os efeitos podem variar. Na Colômbia, La Niña causa um aumento nas precipitações que causam enchentes e deslizamentos; enquanto no Chile e em grandes áreas das bacias do Rio Paraná e do Rio La Plata as secas intensificam-se”, explica o Dr. Germán Poveda, Especialista em hidroclimatologia e mudança climática e professor pesquisador da Universidade Nacional da Colômbia.

 

Quais são os setores mais afetados pelo ENOS?

De acordo com a observação do Dr. Poveda, todos os setores produtivos podem ser impactados de modo positivo ou negativo por esse fenômeno; por exemplo, os setores agropecuário, pesqueiro, energético, turístico e da saúde, entre outros. 

Por isso, é muito importante conhecer em tempo real o estado das variáveis climáticas que definem o El Niño ou La Niña, para atenuar seus efeitos negativos por meio do planejamento urbano e implementação de medidas de proteção e para potencializar os efeitos positivos em oportunidades de negócios e desenvolvimento econômico. 

 

Decisões hidroclimáticas inteligentes 

O oceanógrafo Martínez, destaca que é fundamental assimilar o conceito de desenvolvimento climaticamente inteligente. “Isso faz com que a informação hidroclimática seja uma entrada adicional para a árvore de decisão dos governos nacionais e locais, e também para os líderes empresariais que queiram manter sua competitividade no mercado e ter atividades econômicas sustentáveis. É claro, isso implica estar informado para tomar decisões a tempo”. 

O objetivo é buscar soluções que permitam tomar decisões oportunas, porque a América Latina deve ir em direção ao caminho do planejamento estratégico, “do contrário estaremos improvisando o tempo todo e, do ponto de vista produtivo, isto implicaria em perdas e pouca resilência na atividade econômica”, explica. 

 

Um desafio: gestão dos riscos e das oportunidades 

De acordo com o oceanógrafo Martínez, é preciso adquirir conhecimento no que diz respeito ao prognóstico, à atenuação e à preparação diante desse tipo de eventos. “Temos o desafio de preparar-nos adequadamente para os efeitos do ENOS, esse é o conceito da gestão de risco, ainda mais quando somos tão vulneráveis”. Sua lógica é simples: “Se levarmos em conta esse princípio de precaução, estaremos preparados caso ocorra ou não o fenômeno, e teremos um território pronto para enfrentar as suas consequências”. 

Os diferentes setores produtivos devem buscar agir antecipadamente a fim de poder atenuar os impactos negativos que possa causar qualquer fase do ENOS. No entanto, essas medidas não devem estar limitadas somente a gerenciar o risco de estragos materiais diretos, mas também considerar o risco das redes de abastecimento (que abrangem os fornecedores, infraestrutura, logística, clientes, entre outros) para tomar decisões preventivas e garantir a sustentabilidade dos negócios.

Um ponto interessante na discussão é que nem todos os impactos do ENOS são negativos, como é o caso do El Niño para a indústria turística do Caribe, devido à diminuição de furacões, o que incentiva a reflexão sobre a forma em que essas condições possam ser aproveitadas “e não só se antecipar para as possíveis perdas, mas também se beneficiar da previsão do fenômeno”, como menciona o Dr. Germán Poveda. 

Consequentemente, é possível tomar decisões inteligentes no que se refere à maneira de gerenciar os negócios, ao ter a possibilidade de conhecer as perturbações climáticas em cada fase do ENOS.

Fontes

  • Rodney Guillermo Martínez Güingla. Oceanógrafo, diretor internacional do CIIFEN, Centro Internacional para a Pesquisa do Fenômeno El Niño, oficial da Marinha do Equador em serviço passivo.  
  • Germán Poveda Jaramillo. Doutor em Engenharia de Recursos Hídricos da Universidade Nacional da Colômbia e da Universidade do Colorado. Professor titular da Faculdade de Minas da Universidade Nacional da Colômbia.