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Os sismos de 7 e 19 de setembro de 2017 no México: reação em cadeia ou simples coincidência?

15 outubro 2020 Habitat

O México nos fez lembrar, recentemente, da ameaça sísmica latente na maioria dos países da América Latina, após vários sismos durante o mês de setembro de 2017. O mais impactante é que um desses eventos foi registrado justamente no dia em que o grande sismo de 19 de setembro de 1985 fez 32 anos.

* Este artigo foi publicado na Revista Geociências SURA | Edição 3 | Março de 2018.

 

No mês de setembro de 2017, em um lapso de 12 dias, o México foi sacudido por dois grandes sismos. A sequência começou no dia 7S, com um sismo de magnitude 8.1 Mw, no litoral Pacífico, próximo ao estado de Chiapas. Poucos dias depois, no dia 19S, um sismo de magnitude 7.1 Mw sacudiu Puebla e causou o colapso de 44 edificações na Cidade do México.

Assim como propõe o doutor Ross Stein, professor de geofísica da Universidade de Stanford, cientista emérito do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS, na sigla em inglês) e CEO da Temblor Inc.: “surge uma pergunta inquietante depois da ocorrência desses dois sismos: esses eventos estão relacionados entre si?”. 

A proximidade de espaço e tempo desses dois eventos e a natureza da sua origem tectônica poderiam nos fazer supor que, de fato, existe uma reação em cadeia. Para responder a essa interessante pergunta, o doutor Ross Stein e a equipe da Temblor Inc. estudaram os dois sismos, como fim de estimar a possível relação entre eles.

Para isso, avaliaram o impacto potencial que o sismo de Chiapas pode ter tido sobre o sismo de Puebla, a partir de uma análise de transferência de esforços. Os resultados dessa análise permitiram que a equipe da Temblor Inc. concluísse que o sismo de magnitude 8.1 Mw registrado dia 7S, em Chiapas, não gerou esforços sobre a falha que deu origem ao sismo registrado em Puebla 12 dias depois.

Exatamente como o doutor Ross Stein expressa na sua publicação sobre essa análise: “ao calcular os esforços gerados pelo sismo de Mw = 8.1 em Chiapas sobre a falha que gerou o sismo de Mw = 7.1 em Puebla, verificamos que os esforços que esta sofreu são muito pequenos, inclusive são menores que os que são gerados ao estalar os dedos da mão”. 

 

A sismicidade registrada poderia mostrar alguma relação entre os sismos de 7S e 19S de 2017?

AequipedaTemblorInc.analisouocatálogodo Serviço Sismológico Nacional da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM) e constatou que as réplicas do sismo de Chiapas apresentam um padrão consistente com a distribuição dos incrementos de esforços estimada (análise de Coulomb).

Outra descoberta muito contundente que propõe o doutor Ross Stein é que, ao revisar a distribuição dos pontos onde foram originadas as réplicas do sismo de 7S, em Chiapas (Mw = 8.1), não foi encontrada nenhuma réplica nas proximidades da região onde ocorreu o sismo de 19S, em Puebla (Mw = 7.1).

Conclui-se, a partir dessa análise, que os esforços transmitidos pelo sismo de 7S, em Chiapas, sobre a falha que deu origem ao sismo de 19S, em Puebla, são insignificantes e, sendo assim, não há relação entre esses dois sismos.

 

Qual é a probabilidade de que esses dois eventos sejam independentes?

Segundo as análises realizadas pela equipe da Temblor Inc., é possível inferir que o sismo de Chiapas não teve nenhuma incidência sobre a ocorrência do sismo de Puebla, mas, qual é a probabilidade de que esses dois eventos sejam independentes, se considerarmos o fato de que o sismo de Puebla ocorreu com uma diferença temporal de apenas 11 dias com relação ao sismo de Chiapas e que os seus epicentros estavam a 600 km de distância?

De acordo com as estimativas do doutor Ross Stein e da sua equipe, essa probabilidade corresponde a 1 em 30.000: “você poderia dizer que uma probabilidade de 1 em 30.000 é remota demais para pensar que os sismos de Chiapas e Puebla estejam relacionados. Porém, antes de considerar que 1 em 30.000 é um número muito pequeno para considerar os dois sismos uma coincidência, é melhor se perguntar: qual é a probabilidade de que o sismo de Puebla (Mw = 7.1) ocorresse a apenas duas horas do simulado de 32 anos do sismo de 1985 na Cidade do México? Isso, definitivamente, tem que ser uma coincidência, não é? Essa probabilidade corresponde a 1 em 900.000. Quase uma em um milhão!”

Então, como disse o doutor Ross Stein, “coincidências podem acontecer na vida de qualquer pessoa. Depois de várias análises sismológicas, essa é a melhor explicação que nós temos para o que aconteceu”.

 

“Coincidências podem acontecer na vida de qualquer pessoa. Depois de várias análises sismológicas, essa é a melhor explicação que nós temos para o que aconteceu”.

Doutor Ross Stein.

 

Ambiente tectônico e histórico de sismos no México

O México está localizado em uma zona do continente americano onde ocorre a interação de cinco placas tectônicas (placas do Pacífico, de Rivera, de Cocos, da América do Norte e do Caribe), o que faz com que essa região apresente uma ameaça sísmica importante. Assim como o Serviço Sismológico Nacional do México manifesta, ainda que não exista nenhum método ou tecnologia atual para prever os sismos, o contexto tectônico do México compreende regiões onde já ocorreram grandes sismos, que podem voltar a ocorrer no futuro. Essa convicção levou esse país latino-americano a buscar, no desenvolvimento do conhecimento, um caminho para a resiliência sísmica.

Fontes

  • David Jacobson. Licenciado em Ciências Geológicas da Whitman College, em Walla, Washington, e mestre em Geologia da Universidade de Canterbury, em Christchurch, Nova Zelândia. 
  • Ross S. Stein. CEO da Temblor Inc. e professor de Geofísica da Universidade de Stanford.