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Furacão Maria: oportunidades para desenvolver resiliência

16 outubro 2020 Habitat

Furacões são fenômenos extremos recorrentes que fazem parte da própria dinâmicado planeta, são reguladores naturais do clima e estabilizadores da temperatura. Porém, bem como o furacão Maria, em 2017, algumas experiências nos deixam lições importantes, que terminam se tornando oportunidades para a gestão, redução de riscos e desenvolvimento de cidades mais seguras e resilientes. 

 * Este artigo foi publicado na Revista Geociências SURA | Edição 4 | Dezembro de 2018. 

 

O ciclone tropical Maria teve origem em uma onda tropical do leste que deixou a costa da África (Cabo Verde) em direção ao Oceano Atlântico, em 12 de setembro de 2017, tornando-se uma tempestade tropical no dia 16 de setembro deste mesmo ano. E, apenas 24 horas depois, ganhou força suficiente para tornar-se um furacão de categoria 1 na escala de Saffir-Simpson.

O Maria se intensificou rapidamente e se tornou um furacão de categoria 5 antes de chegar à ilha de Dominica, nas Pequenas Antilhas. Em 20 de setembro, entrou em Porto Rico com ventos máximos de 250 km/h e emergiu no Atlântico, já enfraquecido, com ventos de 175 km/h. O sistema conseguiu manter o nível de um grande furacão até o dia 24 de setembro e se dissipou no Atlântico Norte no dia 2 de outubro. 

 

Contexto histórico dos furacões no Caribe 

O alto nível de ameaças provocadas por ciclones tropicais na América Central e no Caribe é evidenciado no histórico de furacões que está disponível no National Hurricane Center, nos Estados Unidos, com registros datados a partir de 1851.

Devido às suas características geográficas, os países costeiros localizados nessa região estão na área de influência dos ciclones tropicais, que são formados a partir de ondas tropicais do Leste que viajam da África para a América Central e o Caribe, principalmente os mais intensos (85% dos grandes furacões). No entanto, também existem ciclones formados a partir de distúrbios atmosféricos originários do Caribe americano.

A formação dessas tempestades e a força com a que elas se tornam furacões ocorrem em águas tropicais quentes e em condições atmosféricas especiais, com alta umidade e ventos relativamente semelhantes entre a parte superior e inferior da troposfera (primeira capa atmosférica). 

Sua eventual dissipação geralmente ocorre sobre as águas mais frias do Atlântico Norte ou quando os ciclones tocam a terra e se afastam da fonte de energia que o oceano representa.

A temporada oficial de furacões no Atlântico, que inclui ciclones que ocorrem no Oceano Atlântico, Golfo do México e Mar do Caribe, começa no dia 1° de junho e termina no dia 30 de novembro. De acordo com a Administração Oceanográfica e Atmosférica dos Estados Unidos (National Oceanographic and Atmospheric Administration – NOOA, na sigla em inglês), na bacia do Atlântico, entre 1966 e 2009, houve uma média de 11 tempestades tropicais por ano, das quais seis se tornaram furacões, dois deles de categoria 3 ou superior. 

Devido à trajetória que o furacão Maria apresentou no Oceano Atlântico, seus efeitos foram sentidos com maior intensidade na Dominica e Porto Rico, sendo este último o lugar onde causou um maior número de perdas humanas e materiais.

A passagem do Maria por Porto Rico deixou efeitos nas redes de serviços básicos, como energia, água e telecomunicações. Segundo relatos oficiais, a passagem do Maria por Porto Rico impactou entre 80% e 90% da infraestrutura de energia elétrica da ilha.

No entanto, além do colapso das redes de serviços e infraestrutura causado por ventos fortes e chuvas torrenciais imediatamente após a passagem do furacão, o fator que mais afetou as perdas associadas a esse evento foi a dificuldade no reestabelecimento de serviços básicos de abastecimento de água e energia o mais rápido possível. Cinco meses apos a passagem do furacão Maria, mais de 80% dos moradores da ilha permaneciam sem energia, o que dificultou a atenção oportuna às pessoas afetadas. 

Os impactos nas perdas humanas e econômicas que o furacão Maria deixou sobre Porto Rico ratificam a ameaça de ciclones tropicais que os países localizados no Caribe apresentam e devem servir como um aprendizado útil para que seja possível trabalhar em medidas que desenvolvam resiliência nessa região do Caribe.

 

O que aprendemos com o Furacão Maria?

Uma das principais lições aprendidas com a passagem do furacão Maria por Porto Rico é a necessidade de os países desenvolverem uma infraestrutura sustentável e resiliente diante de eventos desse tipo. Por exemplo, danos ao sistema elétrico causam estragos adicionais que se tornam críticos em estágios posteriores, como a interrupção nos sistemas de abastecimento e potabilidade de água, os efeitos nos setores de transporte e saúde, entre outros. 

Portanto, o sistema elétrico deve ser flexível, moderno, resis- tente, ter uma grande capacidade de armazenamento, ser formado por microrredes inteligentes, baseadas em tecnologia digital, ser integrado por diferentes fontes de geração e, finalmente, deixar de ser apenas um sistema centralizado e passar a ser um sistema distribuído e modular, que permita a continui- dade de serviços vitais e diminua o intervalo de interrupção do serviço de energia.

Os efeitos dos ciclones tropicais no meio ambiente e no meio construído são manifestações das megatendências de urbanização e mobilidade, escassez de recursos e variabilidade e câmbio climáticos. Portanto, é essencial que os países expostos a seus efeitos implementem estratégias que permitam o desenvolvimento de cidades cada vez mais resilientes, com medidas focadas em alcançar a mitigação de riscos e a proteção da vida, bens, serviços básicos e infraestrutura.

 

“A estrutura física dos furacões torna esses fenômenos particularmente destrutivos quando apresentam ventos muito fortes perto da superfície, já que podem chegar a combinar de 3 a 4 ameaças: ventos fortes, chuvas intensas e de alto volume que causam inundações repentinas e deslizamentos, além de marés ciclônicas que podem causar inundações consideráveis e destruir infraestruturas. Em Porto Rico, tudo isso aconteceu. O que destaca a necessidade de termos uma boa estratégia de transferência do risco, na qual o efeito conjunto e individual de cada uma dessas ameaças seja considerado”. 

Doutor Carlos David Hoyos, especialista em hidrometeorologia, professor da Universidade Nacional da Colômbia e gerente do sistema de alerta precoce de Medellín e do Valle de Aburrá.

 

Estratégias para transformar cidades que estão em busca de um futuro resiliente 

Os objetivos são conhecer, quantificar e monitorar o risco por diferentes meios que incluem conhecer dados de eventos históricos, estimar mapas de ameaças diretas associadas a ciclones tropicais, avaliar a vulnerabilidade da população e infraestrutura, e implementar ou atualizar sistemas de alerta precoce.

Todas as instituições ou indivíduos que contribuem para o desenvolvimento de planos de redução de risco, como o governo, organizações regionais e internacionais, universidades e centros de pesquisa, o setor privado e investidores e a sociedade civil podem participar.

Para isso, estratégias focadas em fornecer proteção e segurança em diferentes setores devem ser implementadas: 

  • População. Implementar programas de educação, treinamento e prevenção para redução de riscos. 
  • Bens e serviços. Implementar planos para garantir a continuidade do negócio, incentivos ao setor privado para promover o investimento na redução de riscos, e planos de contingência que identifiquem fornecedores, clientes e locais em áreas de alto risco. 
  • Infraestrutura vital. Na prestação de serviços básicos, devem ser implementadas microrredes energéticas inteligentes, projetos de eficiência energética, implementação de sistemas alternativos de purificação de água, telecomunicações resistentes a ciclones e sistemas de backup alternativos. 

Na infraestrutura de transportes (estradas, pontes, aeroportos, portos etc.), uma nova infraestrutura de transporte deve ser construída e as já existentes devem ser adaptadas, visando minimizar os efeitos dos ciclones.

Nas instalações vitais (hospitais, delegacias e bombeiros, instituições educacionais, abrigos de emergência, centrais de operação e controle de linhas vitais, prédios governamentais etc.), novos prédios devem ser construídos e os já existentes devem ser adaptados, visando minimizar os efeitos dos ciclones tropicais. Os prédios localizados em áreas de maior risco devem ser realocados.

 

Manifestações positivas que ocorrem nas megatendências de cidades preparadas para ciclones tropicais

Variabilidade e câmbio climáticos

  • Redução na produção de gases de efeito estufa; 
  • Incentiva as comunidades a estarem mais preparadas.  

Escassez de recursos

  • Abastecimento contínuo de água potável; 
  • Redução do tempo de interrupção de negócios; 
  • Proteção à agricultura; 
  • Confiança para os investidores. 

Urbanização e mobilidade

  • Continuidade dos servicos vitais de infraestrutura; 
  • Desenvolvimento urbano planejado; 
  • Construções mais resistentes; 
  • Proteção da vida e patrimônio.

Fontes

  • Carlos David Hoyos Ortiz. Engenheiro Civil e Mestre em Recursos Hidráulicos pela Universidade Nacional da Colômbia. Mestre em Ciências Oceânicas e Atmosféricas pela Universidade do Colorado e Doutor em Ciências da Terra e Atmosfera pelo Instituto de Tecnologia da Geórgia. 
  • Esteban Herrera Estrada. Engenheiro Civil pela Universidade de Medellín.
  • Victoria Luz González Pérez. Engenheira Civil pela Universidade de Medellín, especialista e mestre em Engenharia pela Universidade EAFIT.