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Deslizamentos induzidos por chuvas: estudos de caso no Brasil

16 outubro 2020 Habitat

Um deslizamento ou movimento em massa é o deslocamento de uma certa quantidade de volume de material em direção a níveis mais baixos de uma encosta. Esse fenômeno ocorre devido à perda de equilíbrio entre as forças de ação, impostas pela gravidade ou outras cargas, e aos esforços resistentes do material da encosta.

* Este artigo foi publicado na Revista Geociências SURA | Edição 4 | Dezembro de 2018. 

 

Efeitos da água no solo e seu potencial para induzir deslizamentos de terra

A presença de água no solo é um fator que faz parte da maioria dos deslizamentos de terra, visto que isso aumenta os esforços atuantes e a perda de resistência do solo da encosta.

A relação entre a intensidade de chuvas e a capacidade de armazenamento de água no solo é determinante para a ocorrência de diferentes tipos de deslizamentos. Se a intensidade da chuva for maior que a capacidade de armazenamento de água do solo, a saturação da superfície ocorrerá rapidamente, situação que favorece deslizamentos superficiais. 

Por outro lado, no caso de chuvas de menor intensidade, mas de maior duração, a saturação do solo pode atingir níveis mais profundos, levando a deslizamentos profundos.

A taxa de movimento do material deslizado quando um talude colapsa pode variar de alguns milímetros por hora a deslizamentos rápidos, nos quais grandes movimentos são gerados em poucos segundos. 

Os deslizamentos de terra são um fenômeno global de ocorrência frequente e significativamente favorecidos por condições climáticas e geomorfológicas. Diferentes instituições, como a NASA ou o Sistema de Inventário de Efeitos de Desastres (DesInvent, na sigla em inglês), se dedicam a monitorar e registrar deslizamentos de terra históricos e partem da escala local à global. 

Os inventários de deslizamentos desenvolvidos por essas instituições representam uma fonte valiosa de informações para a compreensão do fenômeno e as variáveis locais que influenciam sua ocorrência e facilitam o desenvolvimento de modelos de avaliação, monitoramento e gestão de riscos.

 

O Catálogo Global de Deslizamentos (GLC, na sigla em inglês) tem uma compilação de todos os deslizamentos históricos induzidos por chuva, relatados pela mídia, bancos de dados de desastres, relatórios científicos ou outras fontes. O GLC foi desenvolvido em 2007, no Centro de Voos Espaciais Goddard (GSFC, na sigla em inglês) da NASA.

 

O que aconteceu no Rio de Janeiro em 11 de janeiro de 2011?

Um dos casos mais importantes de deslizamento causado por chuvas na América do Sul foi o que ocorreu, em 11 e 12 de janeiro de 2011, na Região Serrana do Rio de Janeiro. Esse caso foi listado pela ONU como o oitavo maior deslizamento de terra do mundo nos últimos 100 anos. 

Em 2011, alguns aspectos-chave para a ocorrência de diversos deslizamentos nessa região do Rio de Janeiro foram: 

  • Topografia íngreme ou montanhosa com declives altos. 
  • Encostas formadas por solos com alta suscetibilidade à perda de resistência por saturação de água. 
  • Fatores antrópicos que geraram desmatamento e reconfiguração de taludes que permitissem o desenvolvimento urbano da área. 
  • Chuvas fortes. Segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia, foram registradas precipitações de 280 mm em um período de 24 horas, entre 11 e 12 de janeiro de 2011, na cidade de Nova Friburgo. É importante, para fins comparativos, mencionar que a precipitação média histórica no mês de janeiro nessa cidade é de 277 mm, o que indica que a precipitação gerada em 24 horas foi semelhante à média histórica do mês. Esse alto volume de chuva causou aproximadamente 3.500 deslizamentos de terra na área, sendo principalmente tipo translacional superficial e fluxos de detritos. 


Como administrar o risco de deslizamentos induzidos por chuva?

No contexto global e local, existem inúmeras pesquisas que, juntamente com os avanços tecnológicos no monitoramento de variáveis hidrometeorológicas e o estado de arte em motores semânticos de rastreamento de notícias on-line, mostram um caminho muito positivo para a gestão do risco de deslizamento associado à chuva.  

A chave fundamental é o processamento de informações dos fatores que controlam os esforços atuantes e resistentes das encostas, juntamente com a estimativa dos intervalos representativos de intensidade/duração das chuvas que podem desencadear deslizamentos em uma área específica. Esse caminho permite a validação de modelos de deslizamento preditivo, que servem para:

  • Sistemas de alerta precoce de deslizamentos;
  • Projeto e construção de obras de engenharia para controlar áreas instáveis ou potencialmente instáveis;
  • Planos de ordenamento territorial que forneçam orientações de uso mais apropriado do solo em áreas suscetíveis a deslizamentos.

Essas técnicas de análise, juntamente com a instrumentação em terra e sensores remotos, mostram grandes possibilidades para entender melhor esses fenômenos e, assim, gestionar melhor os riscos relacionados. Com o que se sabe hoje sobre os mecanismos de ocorrência de deslizamentos provocados por chuva, é possível planejar e implementar ações concretas com um bom nível de informação.

O importante é não perder de vista o fato de que são processos dinâmicos que dependem não apenas das condições físicas da natureza, mas também do desenvolvimento urbano na área de interesse. Os modelos de análise continuarão melhorando para que cada vez possam estimar com mais credibilidade os padrões de intensidade e duração das chuvas que induzem deslizamentos. O importante é saber que hoje existem mecanismos para analisar e gestionar esse risco, sob um olhar que combina aspectos regionais e locais que, por sua vez, permite orientar as decisões da forma mais favorável para proteger a vida, a propriedade e a produtividade.

Fontes

  • Gabriel R. Toro. Engenheiro civil pela Universidade Nacional da Colômbia, Mestre e Doutor em engenharia civil pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts. 
  • Kevin B. Clahan. Bacharel em Ciências da Terra pela Universidade da Califórnia e Mestre em Geologia pela Universidade Estadual de San José.